O próprio conceito de uma galeria de arte implica um foco para si mesmo. Embora a necessidade de mostrar os tesouros culturais contidos dentro seja evidente, a necessidade de conectar esses espaços de exposição protegidos com o mundo exterior é, em alguns casos, esquecida completamente. Mesmo projetos monumentais que transformam o museu em um elemento escultural podem falhar em fazer uma referência ao seu entorno particular. Este senso de "não pertencimento" é o que Steven Holl buscou evitar em seu projeto de um museu de arte no centro de Helsinque, o Kiasma - um museu cujas vistas cuidadosamente coreografadas, espaços de galeria formalmente irregulares e, de fato, seu próprio nome, falam sobre o ideal da conexão.
A demanda para um museu de arte contemporânea em Helsinque surgiu nos anos 60, embora os debates sobre sua criação acabaram por atrasar a ação decisiva por três décadas. Foi somente em 1990 que o Museu de Arte Contemporânea abriu ao público, e mesmo assim em um ambiente temporário. Um concurso de projeto para um novo museu permanente foi lançado no Outono de 1992. No ano seguinte, a proposta de Steven Holl, intitulada "Quiasma" (em português), foi selecionada sobre mais de 515 outras propostas. [1]
O dicionário define quiasma como "uma interseção anatômica." Kiasma é, como seu nome implica, um projeto de interseções. Seu terreno no centro de Helsinque é um ponto focal entre várias estruturas notáveis: o edifício finlandês do parlamento é diretamente adjacente ao oeste do museu, o Finlandia Hall de Alvar Aalto encontra-se ao sul, e a estação de Eliel Saarinen pode ser encontrada ao leste. A fachada norte do museu, entretanto, é delimitada pela Baía de Töölö. [2]
Estas características serviram como forças motrizes para determinar a forma do edifício: uma "linha cultural" curvada liga Kiasma ao Finlandia Hall, enquanto uma "linha natural" reta a conecta à paisagem e à baía [3]. O resultado desta síntese do terreno é uma estrutura compreendendo três elementos principais: dois componentes de construção e a água. O volume leste é uma massa torcida e curvada, cujas faces sul e leste são truncadas onde se encontram com o tecido urbano. Sua contraparte ocidental, entretanto, é uma extrusão ortogonal mais típica. As duas formas se encontram na extremidade norte do terreno, onde se cruzam com as águas de uma piscina refletindo que remete a uma extensão da baía de Töölö sul proposta por Holl. [4]
Os visitantes entram no museu através de um átrio espaçoso com um teto envidraçado. Ele serve de ponto de partida para as escadas, rampa e corredores que se curvam para levar ao restante do edifício. [5] Os espaços de galeria são caracterizados pelo arquiteto como "quase retangulares," cada um contendo uma parede curvada. Esta irregularidade diferencia cada espaço sucessivo, criando uma complexa experiência visual e espacial à medida que os visitantes passam pelas galerias do museu. [6] A impressão inicial é a do típico museu fechado; contudo, é somente movendo-se através de cada espaço que são descobertas as várias visões inesperadas para o exterior. Este foco coreografado externo, combinado com as formas irregulares do interior, cria o que Holl chamou de "uma variedade de experiências espaciais". [7]
Essa variedade era, segundo Holl, essencial à função de Kiasma. Artistas contemporâneos produzem um fluxo interminável de obras únicas e, portanto, um museu que as expõe deve ser capaz de antecipar e fornecer qualquer coisa que vá desde o sutil e contido até o grandioso e imprevisível. Os espaços irregulares, sutilmente diferenciados do museu, servem como salas de exposição que Holl descreve como um "fundo silencioso mas dramático" para a exibição de arte igualmente diverso. [8]
Holl trabalhou com mais do que volumes puros e janelas para dar a cada espaço seu caráter único. A luz natural foi uma consideração importante - Holl era fascinado pelo caráter em constante mudança da luz do dia da Finlândia. [9] Muitas das janelas em Kiasma são compostas de vidros translúcidos, que difunde a luz solar escandinava ao adentrar o interior. O ritmo de vistas da cidade é conseguido pela inclusão ocasional de vidro totalmente transparente - tanto como um crescente estreito que permite uma visão para a estação de Helsínquia e como fachadas completamente envidraçadas nas extremidades norte e sul dos volumes do edifício. [10]
A luz também permeia Kiasma através de uma abundância de claraboias. Mais do que simples furos no teto, as claraboias trabalham com as linhas curvas e irregulares do edifício para transformar a luz em um elemento escultórico em si. Seções horizontais capturam a luz ao longo dos tetos e paredes superiores desviando e difundindo a luz das claraboias e das janelas para baixo nos espaços do museu; Este sistema permite que a luz natural de uma única abertura na cobertura possa penetrar completamente e iluminar múltiplos níveis. [11]
Referências
[1] "The Story of Kiasma." Kiasma. Acessado em 23 de Março de 2016. [link]
[2] "Kiasma, Museum of Contemporary Art." Arcspace. November 11, 2012. Acessado em 23 de Março de 2016. [link]
[3] "Kiasma Museum of Contemporary Art." Steven Holl Architects. Acessado em 23 de Março de 2016. [link]
[4] Lecuyer, Annette. "Art Museum, Steven Holl Architects." Architectural Review, August 1998. September 21, 2011. Acessado em 23 de Março de 2016. [link]
[5] "Architecture." Kiasma. Acessado em 22 de Março de 2016. [link].
[6] “Kiasma Museum of Contemporary Art.”
[7] Bianchini, Ricardo. "Overview of Kiasma Museum." Inexhibit. December 12, 2014. http://www.inexhibit.com/case-studies/helsinki-glance-kiasma-museum-steven-holl/.
[8] “Kiasma Museum of Contemporary Art.”
[9] “Architecture.”
[10] Lecuyer.
[11] “Kiasma, Museum of Contemporary Art.”
[12] Bianchini.
- Ano: 1998
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Fotografias:Ari Palm, Pirje Mykkaenen, Petri Virtanen
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Fabricantes: RHEINZINK